Festival ZUM promove debates com Zanele Muholi e Rico Dalasam

Organizado pela revista de fotografia do Instituto Moreira Salles, o Festival ZUM acontece nos dias 2 e 3 de novembro (sábado e domingo), no IMS Paulista (Av. Paulista, 2424). São dois dias de atividades gratuitas, incluindo feira de fotolivros, oficina e bate-papos. No evento, também será lançada a 27ª edição da ZUM.

Zazi II, (2019) da série Somnyama Ngonyama II, de Zanele Muholi
Zazi II, (2019) da série Somnyama Ngonyama II, de Zanele Muholi

O Festival ZUM tem como destaque a presença de Zanele Muholi, artista e ativista visual cuja obra ganhará exposição retrospectiva no IMS Paulista, em fevereiro de 2025.

Um dos principais nomes da arte contemporânea mundial, Muholi (Umlazi, África do Sul) vem ao Brasil para produzir novos trabalhos e conversar com o público sobre seu ativismo e seu trabalho fotográfico em defesa da comunidade queer negra sul-africana, da qual faz parte, como pessoa não binária.

Também participam do festival, o compositor e cantor Rico Dalasam, representante do “queer rap”, a artista Tadáskía, destaque da ZUM #27 e que recentemente exibiu seu trabalho no MoMA/NY, o cineasta Lincoln Péricles, um dos fundadores da Cinemateca da Quebrada, Gê Viana, artista maranhense e pesquisadora, e Giselle Beiguelman, artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, entre outros nomes.

DEBATES

A programação do dia 2 de novembro (sábado) inclui três debates. Às 15h, a artista Tadáskía conversa com a jornalista e cineasta Olinda Tupinambá sobre a performance como ferramenta para construir relações afetivas, reforçar a potência do cotidiano e resistir ao apagamento. A mediação será de Amanda Carneiro, curadora do Masp.

Em seguida, às 17h, a mesa “Rituais de comunhão” será composta pela artista e pesquisadora Gê Viana, o artista Caio Pacela, cuja pintura Amálgama é destaque da ZUM #27, e o cineasta e educador popular Lincoln Péricles. O bate-papo, com mediação da jornalista Tatiane de Assis, estabelecerá diálogos entre a produção de cada artista e a construção de diferentes tipos de comunidades, a partir da experiência quilombola de Viana, evangélica de Caio e do mutirão documentado por Péricles.

Às 19h, em rara visita ao Brasil, Zanele Muholi conversa com o público sobre seu trabalho artístico e ativismo na luta contra a violência de gênero e raça na África do Sul. Unindo arte e política, Muholi produz séries fotográficas que valorizam a beleza queer negra de sua comunidade, não raro valendo-se do autorretrato como veículo de expressão.

No domingo (3/11), às 14h, as artistas Giselle Beiguelman e biarritzzz conversam com o artista Guilherme Bretas sobre o uso da tecnologia na arte contemporânea, apontando os desafios e possibilidades que a inteligência artificial traz para subverter arquivos e desafiar visões coloniais. A fala será mediada por Pollyana Quintella, curadora da Pinacoteca de São Paulo.

A mesa “Sonhar pra ser”, às 16h, traz o rapper Rico Dalasam, autor do álbum Escuro brilhante, último dia no orfanato Tia Guga (2023), que se desdobrou em podcast sobre sua experiência de orfandade, e a cineasta Sabrina Fidalgo, diretora dos filmes Black Joy (2023) e Alfazema (2019). Com mediação da jornalista Adriana Ferreira Silva, o bate-papo abordará a importância de construir novas histórias e imagens para sonhar com um país mais diverso e menos desigual.

OFICINAS E FEIRA DE FOTOLIVROS

Além dos debates, no sábado (2/11), às 10h, acontece a tradicional apresentação das publicações selecionadas na Convocatória de Fotolivros ZUM/IMS. A seleção traz um panorama dos fotolivros lançados no último ano. Em seguida, três obras serão premiadas por um júri.

Nos dois dias de festival, a Feira de Fotolivros reunirá publicações de cerca de 30 editores, coletivos e artistas no térreo do centro cultural.

A programação também inclui uma oficina de colagem ministrada pela artista Gê Viana, no domingo (3/11), das 10h às 13h. As pessoas participantes discutirão imagens a partir de arquivos coloniais e familiares e é necessária inscrição prévia. Ainda no mesmo dia, às 11h, haverá um bate-papo em homenagem ao historiador Mauricio Lissovsky (1958-2022) com Ronaldo EntlerLívia Aquino Pio Figueiroa, na Biblioteca.

Durante o evento, o público também poderá conferir a instalação Corpo preta, da artista muSa michelle mattiuzzi, exibida na Biblioteca. Concebida com apoio da Bolsa ZUM/IMS 2023, a obra parte da ideia de fabulação crítica para construir novas imagens a partir do estudo de arquivos históricos coloniais de pessoas negras na Bahia.

Imagem colorida de Frame do filme Ibirapema (2022), de Olinda Tupinambá
Frame do filme Ibirapema (2022), de Olinda Tupinambá

ZUM #27

No festival, também será lançada a 27ª edição da revista ZUM, que já está à venda no centro cultural e na loja virtual do IMS. A capa do novo número traz a série Álbum de desesquecimentos (2024), da artista Mayara Ferrão.

Em texto publicado na revista, a crítica literária Fernanda Silva e Sousa comenta a produção de Ferrão que, a partir da inteligência artificial e de banco de imagens, cria cenas afetivas e familiares, em contraponto ao apagamento das narrativas negras.

A ZUM #27 publica também pinturas de Caio Pacela, acompanhadas por texto da artista e pastora Ventura Profana, o trabalho da artista Tadáskía, comentando pela curadora Diane Lima, séries das fotógrafas Maya Goded, em imagens que mostram a luta das mulheres contra a destruição ambiental, além de obras de Vera Chaves Barcellos, que cria paisagens com impressões do próprio corpo, e Hélène Amouzou, que investiga as angústias da imigração a partir de autorretratos, entre outros destaques.

A entrevista da edição é com Nair Benedicto, consagrada fotojornalista brasileira, que relembra mais de 50 anos de carreira, em conversa com a diretora e roteirista Paula Sacchetta.

SERVIÇO

FESTIVAL ZUM

2 e 3 de novembro

Debates, oficinas, fotolivros

Evento presencial | Entrada gratuita

IMS Paulista

Avenida Paulista, 2424. São Paulo

Tel.: 11 2842-9120

*Todos os eventos têm entrada gratuita. Para os debates, serão distribuídas senhas na bilheteria, a partir das 12h, com limite de 1 senha por pessoa. Para a conversa com autores da convocatória e anúncio dos vencedores, a entrada é gratuita e sujeita à lotação do espaço. Para participar da oficina, é preciso realizar inscrição prévia no Sympla, a partir de 25/10 (as vagas são limitadas). Os eventos contam com interpretação em Libras (Língua Brasileira de Sinais).

Programação completa

SÁBADO (2/11)

10h – 20h

Corpo preta, instalação de muSa michelle mattiuzzi / Biblioteca

10h

Exposição, conversa com autores e anúncio dos premiados na convocatória de fotolivros

ZUM / Biblioteca

13h-19h

Feira de fotolivros + lançamentos com autores / Térreo

15h

Debate | Dançando com a câmera

Tadáskía e Olinda Tupinambá. Mediação: Amanda Carneiro

17h

Debate | Rituais de comunhão

Gê Viana, Caio Pacela e Lincoln Péricles. Mediação: Tatiane de Assis

19h

Debate | Beleza revolucionária

Com Zanele Muholi
DOMINGO (3/11)

10h – 20h

Corpo preta, instalação de muSa michelle mattiuzzi / Biblioteca

Exposição da convocatória de fotolivros ZUM / Biblioteca

10h-13h

Oficina com a artista Gê Viana / 9º andar. Inscrições via Sympla a partir de 25/10. 15 vagas.

www.sympla.com.br/produtor/imoreirasalles

11h

Bate-papo em homenagem a Mauricio Lissovsky | 10 proposições para o futuro da fotografia

Com Ronaldo Entler, Lívia Aquino e Pio Figueiroa. Mediação: Rony Maltz / Biblioteca

11h-17h

Feira de fotolivros + lançamentos com autores / Térreo

14h

Debate | Tecnologias de resistência

Com Giselle Beiguelman, biarritzzz e Guilherme Bretas. Mediação: Pollyana Quintella

16h

Debate | Sonhar pra ser

Com Rico Dalasam e Sabrina Fidalgo. Mediação: Adriana Ferreira Silva

Fotografia em preto e branco de Rico Dalasam por Diogo França - @difgomez - na Casa Natura Musical
Rico Dalasam na Casa Natura | Foto: Diogo França – @difgomez
PARTICIPANTES

Adriana Ferreira Silva é jornalista, escritora e curadora. Cofundadora da agência de criação Grená. Curadora da Jornada Galápagos de Jornalismo. Escreve para as revistas Quatro cinco um e Numéro Brasil.

Amanda Carneiro (São Paulo, SP, 1985) é curadora no Museu de Arte de São Paulo (Masp), coeditora da revista Afterall, publicação da Universidade de Artes de Londres, e organizadora artística da 60ª Bienal de Veneza (2024).

biarritzzz (Fortaleza, CE, 1994) é artista transmídia. Expôs no MAM Rio, no Centro Cultural São Paulo e na Kunsthall Trondheim, na Noruega, e participou da The Wrong Biennale e do FILE, entre outros. Integra os acervos do Rhizome Artbase (New Museum), da Fundação KADIST e do Instituto Moreira Salles. Foi indicada ao Prêmio Pipa em 2023 e 2024.

Caio Pacela (Niterói, RJ, 1985) é bacharel em pintura pela UFRJ. Participou das exposições Entes (SP-Arte, 2024) e O que te faz olhar para o céu? (Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro, 2024). Publicado na revista ZUM #27.

Gê Viana (Santa Luzia do Tide, MA, 1986) é fotógrafa, performer e pesquisadora. Apresentou as exposições Retirar o sol das cabeças, uma reza das imagens (2022), na Galeria Superfície (SP), e Layers, Loops, Lines!, no Museu de Arte de Borås, na Suécia. Foi residente da Bolsa Pampulha em 2018-2019. Vencedora do Prêmio Pipa 2020. Publicada na revista ZUM #25.

Giselle Beiguelman (São Paulo, SP, 1962) é colunista do site da ZUM, artista e professora da FAU-USP. É autora de Políticas da imagem: vigilância e resistência na dadosfera (2021) e Memória da amnésia: políticas do esquecimento (2019), entre outros. Publicada na revista ZUM #18.

Guilherme Bretas (São Paulo, SP, 1999) é artista visual e arquiteto, graduando pela FAU-USP. Foi curador da exposição Tebas: uma pedra no chão (2023), no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE), e participou com a Frente 3 de Fevereiro da 35ª Bienal de São Paulo (2023). Foi indicado ao Prêmio Pipa em 2023.

Lincoln Péricles (LK) (Capão Redondo, São Paulo, SP, 1989) é cineasta autodidata e educador popular. Idealizador da Cinemateca da Quebrada, membro do coletivo Astúcia Filmes, dirigiu e roteirizou os filmes Meu amigo Pedro Mixtape (2023), Roubar um plano (2023), com André Novais Oliveira, e Mutirão: o filme (2022), entre outros.

Lívia Aquino (Fortaleza, CE, 1971) é pesquisadora, professora e artista, doutora em artes visuais e mestra em multimeios pela Unicamp. Participou de exposições no Parque Lage, na Fundação Joaquim Nabuco e na Pinacoteca de São Paulo, entre outras. Fui curadora das exposições À escuta e Todo corpo em deslocamento tem trajetória, ambas em 2024, em Belém (PA).

muSa michelle mattiuzzi (São Paulo, SP, 1983) é artista indisciplinar. Foi premiada com a Bolsa ZUM/IMS em 2024 e a Bolsa Ecos do Atlântico Sul, do Instituto Goethe, em 2018. Participou da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto (2021), e do programa IMS Convida (2020).

Olinda Tupinambá (TI Caramuru-Paraguaçu, Pau Brasil, BA, 1989) é jornalista, cineasta e ativista. Dirigiu o curta Equilíbrio (2020), e é coautora da série documental Falas da Terra (2021), produzida pelos Estúdios Globo. Foi curadora do 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena – FeCCI (2022), entre outros. Participou da 60ª Bienal de Veneza (2024).

Pollyana Quintella (Rio de Janeiro, RJ, 1992) é escritora, pesquisadora e curadora da Pinacoteca de São Paulo. É doutoranda pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e mestra em história da arte pela mesma instituição.

Pio Figueiroa (Recife, PE, 1974) é fotógrafo e diretor de cena. Participou das mostras Ver do meio (2015), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e Carnaval (2014), no Wexner Center, em Ohio, EUA, entre outras. Premiado na Academia Brasileira de Cinema como codiretor da série Quebrando o tabu (2019), do GNT. É diretor na produtora Piloto.

Rico Dalasam (Taboão da Serra, SP, 1989), é cantor e compositor, representante do queer rap. Lançou os discos Orgunga (2016), Fim das tentativas (2022) e Escuro brilhante, último dia no orfanato Tia Guga (2023), que se desdobrou no podcast Último dia no orfanato Tia Guga.

Ronaldo Entler (São Paulo, SP, 1958) é pesquisador, crítico de fotografia, professor dos cursos de artes e comunicação da Faap e colunista da ZUM. Publicado da revista ZUM #19.

Rony Maltz (Rio de Janeiro, RJ, 1983) é doutor em artes visuais pela EBA/UFRJ e mestre em fotografia pelo ICP-Bard College (NY). É editor da revista ZUM.

Sabrina Fidalgo (Rio de Janeiro, RJ, 1979) é roteirista e diretora de cinema. Seus filmes Rainha (2016) e Alfazema (2019) ganharam prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro. Participou da exposição Abre-alas (2022), na galeria A Gentil Carioca, do festival Encontros da Fotografia, em Arles (2023), e do programa de videoarte MIRA na ArtRio (2024).

Tadáskía (Rio de Janeiro, RJ, 1993) é artista, formada em artes visuais e mestra em educação pela UFRJ. Apresentou as exposições Sob as cinzas, brasa, no 37o Panorama da Arte Brasileira (MAM-SP, 2022), e Projects: Tadáskía (MoMA, 2024), em Nova York. Participou da 35a Bienal de São Paulo (2023). Publicada na revista ZUM #27.

Tatiane de Assis (Goiânia, GO, 1988) é crítica de arte e repórter na revista piauí. Tem especialização em artes na Unicamp.

Zanele Muholi (Umlazi, África do Sul, 1972) é artista e ativista visual. Publicou os livros Faces and Phases (2014), Somnyama Ngonyama, v. 1 e 2 (2018/2024). Participou do Documenta 12 (2007), em Kassel, da 55ª Bienal de Veneza (2013) e da 29ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo (2010). Capa da revista ZUM #11, terá exposição retrospectiva no IMS em 2025.