Eddie é um grupo da histórica cidade de Olinda, famosa por ser um celeiro de talentos como Alceu Valença, Chico Science e Nação Zumbi, e que ganhou destaque nacionalmente com o Manguebeat, movimento cultural jovem surgido em Pernambuco nos anos 90.
Em uma mistura de punk rock, surf music, reggae, frevo e samba, a banda cria um som único e representa a legítima da música popular urbana contemporânea no Brasil.
A banda também se apresenta em um momento especial da história do Manguebeat, que no ano passado comemorou seus 30 anos do movimento.
Confira abaixo a entrevista de Fábio Trummer, vocalista e guitarrista da banda Eddie, sobre a fase do grupo, inspirações, e o que espera do show na Casa Natura Musical no dia 18.
- Como é comemorar 35 anos com turnê na estrada? O que vocês valorizam numa turnê emblemática como essa?
Fazer uma turnê de 35 anos é muito bacana, primeiro pelo tempo. Essa formação atual já tem 23 anos, a gente é músico autodidata, praticamente só aprendemos a fazer a nossa música autoral, nossa música própria. Quando você tem uma longevidade nesse sentido, você tem o maior controle sobre o fazer música, sobre a sua própria técnica para terminar as composições, ou mesmo no palco a banda ganha muito com essa química de muito tempo.
Outro aspecto muito bacana de estarmos completando 35 anos de carreira é que, por a gente já ter tocado muito por aí, aparece um público antigo, também aparece um público novo, muito jovem chegando e gostando muito da música, se identificando com o nosso trabalho. É muito gratificante você conversar com gerações diferentes, permanecer conversando com gerações diferentes.
A construção de uma obra de 35 anos é importante para um para quem trabalha com criação, quem trabalha com arte, quem trabalha com composição de alguma maneira. A sua obra é que é o grande mérito dessa vida.
- No ano passado o movimento Manguebeat também teve comemoração histórica, ao celebrar seus 30 anos. O que dessa musicalidade ainda permanece nas composições da banda e qual a importância do movimento ainda hoje para o cenário da música independente no Brasil?
Em 2023 o Manguebeat completou 30 anos e a gente é associado a esse movimento porque somos contemporâneos. Éramos amigos na época do começo de tudo ali, mas eu não me vejo muito como uma banda a partir do Manguebeat. Algumas das nossas referências são as mesmas que o Manguebeat usou. Eu acho que o Manguebeat também não é um rótulo, porque é uma coisa muito diversificada.
Eu acho que de certa forma a gente é associado e faz parte desse movimento porque fazíamos música brasileira. Temos interesse em fazer música brasileira assim como a Nação Zumbi, o Mundo Livre, o Otto, o Lirinha, a Karina Buhr, e por aí vai. Então dá para dizer que o Manguebeat era uma geração. Eram pessoas que estavam ali naquela região interessadas em fazer música brasileira, que olhavam para quem você é, de onde você vinha.
Então eu acho que essa foi a grande construção da identidade do Manguebeat. Por outro lado, era muito bom você estar junto de pessoas como [Fred] Zero Quatro. As letras de Zero Quatro me iluminavam. O Chico Science era um cara que era muito rápido, muito ligado, era um cara que na música, nos ensaios, nos palcos, nas conversas, era um cara que sempre tinha um olhar construtivo de um mundo que a gente queria, que tava dentro da nossa cabeça.
A gente que ouvia o pós-pank, o Hip Hop, ouvia Afrodite, ouvia o reggae na época e conhecia toda a música brasileira Jorge Ben, Tom Jobim, João Gilberto. Era muito bom estar do lado desses caras porque eram pessoas que estavam fazendo a música como a desses grandes mestres dentro e de fora do Brasil. Eu tenho um amigo que fala que se Chico não tivesse morrido ele seria o nosso Bob Marley.
Ter tido a sorte de viver junto de um cara desse tamanho, dessa magnitude, dessa criação, dessa criatividade, foi fundamental também para a gente evoluir enquanto músico, enquanto compositor, enquanto banda, enquanto obra. Então é uma sorte histórica e geográfica a gente tá junto desses caras ali naquela época, e um alimentar o outro e a gente seguir fazendo.
Eu acho que o mundo é outro hoje, sobra o que somos, a identidade própria de cada um na sua composição, na sua música, isso a gente não consegue mudar. Essa é a nossa digital. Então acho que a digital dos compositores, autores, músicos, criadores daquela época permanece. Mas em outro mundo, com outras referências e com outros ‘quereres’.
- Como é tocar em São Paulo, na Casa Natura Musical? O que vocês esperam do público e o que eles podem esperar do show de comemoração aos 35 anos de estrada, podem revelar alguma novidade dessa apresentação?
Tocar na Casa Natura é muito bacana. A Natura é associada à boa música brasileira, uma música nova, contemporânea, e também que presta homenagens ao nosso Brasil antigo, nosso Brasil passado de muito tempo e de pouco tempo. Eu vejo a Casa Natura como uma um rio que trafega nessa cultura brasileira diversa e se sente bonito, se sente orgulhoso de ter todos esses elementos e todas essas pessoas diferentes fazendo uma cultura tão, tão diversa e bonita como a nossa.
Então acho que a Casa Natura é um pouco disso e é um lugar que a gente quer estar, um lugar em que a gente pratica, e é o que a gente acredita enquanto brasileiros, enquanto pernambucanos, nordestinos, sulamericanos. Eu acho que a busca por essa identidade é muito importante e a Casa Natura reconhece isso nos artistas. E a plateia? Eu acho que ela pode esperar o Eddie dando o seu melhor.
O show tá muito feliz, a gente mistura fases diferentes da banda, a gente toca músicas de todos os álbuns, são dez, e a gente tem tido uma resposta muito boa com a nossa obra, porque às vezes uma obra fica datada, mas parece que isso não acontece as com as nossas músicas, parece que foram feitas ontem, e são muitas que foram feitas 30 anos atrás. Então se prepara, bota uma roupa leve, se prepara para dançar, pular, para se divertir e para comemorar.
Eu costumo dizer que não é um show, é uma celebração, é uma confraternização de amigos dessa música brasileira, e que o Eddie é só uma parte dela.
SERVIÇO
Banda Eddie | 35 anos
Data: 18.10, sexta-feira
Abertura da Casa: 19h30
Classificação: 18 anos
Ingressos disponíveis pelo Sympla. Valores de R$30 a R$180
CASA NATURA MUSICAL
Rua Artur de Azevedo, 2134, Pinheiros, São Paulo
(a 300 metros da estação de metrô Faria Lima da linha 4 – Amarela)
Sobre a Casa Natura Musical
Inaugurada em maio de 2017, a Casa Natura Musical é um equipamento cultural que fomenta experiências, encontros, conexão afetiva, sensorial e coletiva por meio da música. Palco de diferentes ritmos, movimentos e artistas de todo Brasil, a Casa promove através de shows, eventos, mostras de arte digital e conteúdos dos seus canais de comunicação aproximação da comunidade ao processo criativo da cultura brasileira.
O espaço, inclusivo e sustentável, fica localizado no bairro de Pinheiros em São Paulo, mas expande suas vivências e incentiva novos territórios musicais descentralizados em seus canais digitais pelo Brasil e pelo mundo.